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Sintomatologia

  Como inibidor irreversível da acetilcolinesterase, o sarin provoca um aumento da concentração de acetilcolina nos locais dos recetores muscarínicos e nicotínicos. Este aumento, ao nível do sistema nervoso central, provoca convulsões e em concentrações mais elevadas paragem respiratória. No entanto, para uma exposição a doses baixas/intermédias (denominado de Síndrome colinérgico), as primeiras manifestações do envenenamento por sarin são locais:

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A nível ocular:

O sinal mais comum da intoxicação é a miose que pode durar desde alguns dias até 9 semanas, sendo predominante nos casos em que o sarin é utilizado na forma de vapor.

Algumas pessoas expostas a esta substância referem também uma dor em forma de picada no olho, por vezes associada com dor de cabeça, bem como visão desfocada, lacrimejo excessivo e vermelhidão.

A nível respiratório:

É muito comum a rinorreia, vulgarmente conhecida como “pingo no nariz”, que não deve ser confundido com o que aparece nas alergias ou constipações, uma vez que normalmente é mais forte do que nestes casos, dependendo sempre da dose com que a pessoa contactou. Outros sintomas costumam aparecer quando a exposição a vapores de sarin é elevada, entre os quais, o aumento das secreções brônquicas, pieira e constrição do tecido brônquico que pode levar a paragem respiratória.

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A nível cardiovascular:

Devido à sua ação nos recetores muscarínicos e nicotínicos, é possível verificar bradicardia e bloqueio auriculoventricular, podendo haver um aumento do débito cardíaco. Em casos mais raros pode haver arritmia ventricular e um prolongamento do intervalo Q-T.

A nível neuronal:

Doses elevadas podem provocar cansaço, fraqueza muscular e até paralisia.  É também comum a existência de pequenos espasmos, sendo este o sintoma do sistema nervoso que tem maior duração temporal. Após exposição aguda, foram registadas convulsões, podendo chegar a durar mais de 5 minutos. Possível aparecimento abrupto de apneia que não reverte com a administração do antídoto. Na exposição a doses baixas de sarin ou outros compostos semelhantes, foram reportados sintomas como dores de cabeça, tonturas, agitação, ansiedade, confusão, falta de coordenação muscular, irritabilidade, insónias, pesadelos, depressão, perda de memória e falta de capacidade de concentração, tudo isto possível mesmo sem presença de sintomas físicos.

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A nível da pele e membranas mucosas:

A pele é uma das principais “portas de entrada” para o sarin no organismo, levando à presença de sintomas sistémicos após 2 ou 3 horas da exposição, diminuindo a absorção por este meio quando aumenta a temperatura ambiente. Apesar de tudo isto, existem também manifestações sintomáticas na pele, como a sudação excessiva, independentemente da via de exposição,

A nível gastrointestinal:

Aumenta a mobilidade e a produção das secreções do sistema gastrointestinal e é neste sistema que se verificam os primeiros sintomas de exposição dérmica: náuseas e vómitos, sendo observados em grande parte das pessoas expostas ao sarin. Muito raramente são descritas ocorrências de diarreia.

O aumento da estimulação adrenérgica e da libertação consequente de adrenalina e noradrenalina pode levar a hiperglicémia.

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A nível urinário:

Este sistema tem principalmente o papel de excretar estes compostos. Após contacto com grandes quantidades de sarin, quer por inalação, quer por contacto dérmico, é possível verificar o aumento da micção nalgumas situações.

  Neuropatia Retardada

 

  Um dos efeitos mais graves do sarin é a neuropatia retardada induzida por organofosfatos (OPIDN). Esta síndrome surge normalmente 1 a 5 semanas após uma exposição a doses elevadas do composto. Inicialmente caracteriza-se por sintomas como fraqueza, sensação de formigueiro e espasmos musculares nas pernas. Gradualmente, esta fraqueza muscular levará a que o indivíduo tenha uma marcha invulgar, devido à progressiva paralisia dos dedos, mãos e coxas. Dependendo da dose uma paralisia flácida poderá acontecer, conduzindo a um quadro clínico de tetraplegia, reflexos anormais (indicativo de danos no trato piramidal) e ataxia.

  Esta síndrome está associada à inibição da enzima NTE (Neuropatia Alvo Esterease) pelo sarin, diminuindo a sua atividade entre 70 a 80%, conduzindo a uma degeneração axonal dos nervos periféricos e da medula espinal, diminuindo também a velocidade de condução nervosa.

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[1] Abou-Donia MB, Siracuse B, Gupta N, Sobel Sokol A. Sarin (GB, O-isopropyl methylphosphonofluoridate) neurotoxicity: critical review. Crit Rev Toxicol. 2016;46(10):845–875. doi:10.1080/10408444.2016.1220916.

[2] Moshiri, M., Darchini-Maragheh, E., & Balali-Mood, M. (2012). Advances in toxicology and medical treatment of chemical warfare nerve agents. Daru : journal of Faculty of Pharmacy, Tehran University of Medical Sciences, 20(1), 81.

[3] - Freepik (imagens) - Consultado em 04/04/2020

[4] -  Toxicity of the Organophosphate Chemical Warfare Agents GA, GB, and VX: Implications for Public Protection.  Disponível em: https://ehp.niehs.nih.gov/doi/abs/10.1289/ehp.9410218 - Consultado em 22/04/2020

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, 2020

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